2 João
(2 Jo)
Segunda Epístola de João
Autor: Apóstolo João
Data: entre 90 e 95 d.C.
Propósito: Alertar contra os enganadores; combater a mentira.
Palavra-chave: verdade.
ESBOÇO
1 – Saudações – 1-3.
2 – O caminho da verdade e do amor – 4-6.
3 – Os enganadores e como tratá-los – 7-11.
4 – Saudações – 12-13.
O autor não menciona seu próprio nome. Apresenta-se como "presbítero",
que significa "ancião", conforme já consta em algumas versões bíblicas.
Os anciãos, desde os tempos do Velho Testamento, eram os homens mais
velhos, mais experientes, e, por conseqüência, líderes do povo (Êx.3.16,18;
4.29; 12.21 etc.). Ao escrever seu evangelho e epístolas, o apóstolo
João já era idoso.
Estando já familiarizados com os escritos do apóstolo, logo reconhecemos
sinais de sua autoria na segunda epístola. Por exemplo, a ênfase sobre
os temas: "verdade", "amor", "mandamento", "permanecer", e o combate às
falsas doutrinas. Tudo isso constitui marca de João em seu evangelho, na
primeira epístola, e também na segunda. Afinal, dos 13 versos da segunda
epístola, 8 se encontram quase idênticos na primeira.
Destinatária – A segunda epístola é dirigida a uma senhora e seus
filhos. Tal mulher não é identificada pelas escrituras. Há quem defenda
a tese de que a "senhora eleita" seja Maria, irmã de Marta, a qual
estaria mencionada no versículo 13. Há quem tome o termo "senhora" em
grego, kuria (kuria), considerando-o como nome próprio. Outras hipóteses
sugerem que João estivesse chamando de "senhora eleita" a uma igreja
específica ou à igreja em geral. Nada disso se comprova. Seguindo a mais
rigorosa interpretação, não podemos afirmar qual tenha sido essa mulher.
Apenas entendemos tratar-se de uma senhora que, provavelmente era viúva.
Caso tivesse marido, não seria natural que o apóstolo lhe dirigisse
diretamente uma carta. O texto parece indicar que em sua casa
aconteciam reuniões da igreja (vs.10). De qualquer forma, trata-se de
uma mulher amada e respeitada por todos os irmãos que a conheciam
(vs.1).
Tema – todas as epístolas de João foram escritas na mesma época.
Nota-se na segunda, que os assuntos da primeira ainda persistem na mente
no apóstolo. Ele ainda se mostra combativo em relação aos enganadores.
Seu esforço é a favor da verdadeira doutrina de Cristo.
NOSSA RELAÇÃO COM A DOUTRINA DE CRISTO
Cristo veio e nos deu sua doutrina, seu mandamento, que consiste no amor
a Deus e ao próximo. O amor determina nosso vínculo com Deus e com os
irmãos. Já recebemos a sua doutrina. A questão agora é: vamos
andar nesse mandamento? O verbo "andar" é muito utilizado por João e
também por Paulo, indicando nosso modo de vida, nossas decisões, nossos
rumos, nossas ações. Se praticamos a vontade de Deus, então estamos
andando em espírito (Gál. 5.16), andando com Deus (Gn.5.22,24), no
caminho que é Cristo (Jo.14.6). Contudo, de nada adianta estarmos no
caminho por algum tempo se sairmos dele antes de chegarmos ao lugar onde
ele nos levaria. Portanto, precisamos permanecer no caminho, por
mais difícil que isso possa ser. Aos que permanecerem, Deus dará a
devida recompensa.
Os enganadores ameaçam o êxito desse processo (vs.7 a 10). Isso ocorre
com aqueles que abandonam o caminho da verdade e do amor, não
permanecendo na doutrina de Cristo (vs.9). Os que se desviam perdem a
recompensa, perdem o fruto do seu trabalho e fazem perder-se o
fruto do trabalho daqueles que os conduziram a Cristo (vs.8). João disse
que alguns "vão além" da doutrina. Esta é uma forma sutil da heresia:
● Exigir mais do que o que Deus
exigiu.
● Esperar mais do que o que Deus
prometeu.
Precisamos ser cuidadosos no sentido de não criarmos doutrinas
extra-bíblicas, como se a palavra de Deus precisasse de complemento. Os
que lideram precisam estar atentos em relação ao que exigem de seus
liderados. Estaremos indo além da palavra de Deus? Vemos em Gênesis que,
ao repetir o mandamento divino, Eva lhe acrescentou as palavras: "nem
nele tocareis" (Gn.3.3). Paulo profetizou que nos últimos dias,
surgiriam doutrinas de demônios, proibindo o casamento e determinando a
abstinência de manjares que Deus criou para os fiéis (I Tm.4.1-3).
A bíblia fala em dízimo, que significa 10%. Se alguém quiser dar 100%,
fique à vontade. Será uma oferta voluntária. Entretanto, se algum líder
exigir 100%, estará indo além, muito além, da doutrina
bíblica.
Esperar mais do que aquilo que Deus prometeu pode ser uma atitude
inofensiva ou não, dependendo da situação. Se alguém espera que Deus lhe
dê uma casa na praia, isso não é pecado. Contudo, não sabemos se Deus
fará isso. Pode ser que sim e pode ser que não, uma vez que a bíblia
nunca nos prometeu esse tipo de coisa. Então, se Deus não der, qual será
a reação daquele que pediu e esperou? O problema se agrava quando esse
tipo de expectativa é alimentada por formas doutrinárias, como as que
temos ouvido hoje em dia, e que estão destituídas de fundamento bíblico.
Esta é uma das formas de "ir além" da doutrina de Cristo. A palavra do
Senhor nos ensina que ele atende aos nossos pedidos desde que estejam
coerentes com a sua vontade (I Jo.5.14; Tg.4.3).
A doutrina gnóstica, tão influente nos dias de João, negava a humanidade
de Cristo, atribuindo-lhe apenas caráter espiritual. Era então um
ensinamento espiritualista, o que, aparentemente, demonstrava elevação,
desapego em relação à matéria. Estavam indo muito além da
espiritualidade bíblica, a qual não nos nega o provimento às nossas
legítimas necessidades físicas (I Tm.4.1-3; Col.2.16-23). O cristianismo
mostra o espiritual se encontrando com a matéria. "O verbo se fez
carne e habitou entre nós" (João 1.14). E este era o principal ponto
negado pelos enganadores a quem João combatia (II João 7). O próprio
batismo e a ceia do Senhor fazem com que os nossos corpos participem das
nossas experiências com Deus. Palavras de João: "vimos com os nossos
olhos... e as nossas mãos tocaram..." (I João 1.1). Era uma experiência
física com o verbo encarnado.
Uma espiritualidade exagerada, que vai além dos parâmetros
bíblicos, é algo que deve ser questionado. Como exemplos podemos
mencionar certas abstinências alimentares ou o celibato. Tudo isso pode
ser praticado, desde que seja voluntário. Se for doutrina, será humana.
Sobre os enganadores, aqueles que não trazem a doutrina de Cristo, João
diz: "Não os recebais em casa nem tampouco os saudeis." Está
estabelecido o limite para a hospitalidade cristã, tão valorizada pelos
escritores do Novo Testamento. Não devemos ser tão bons ao ponto de
acolher os lobos que vêm para ameaçar nossa firmeza na fé. O apóstolo
não está nos aconselhando a sermos rigorosos contra os fracos na fé, mas
sim contra aqueles que nos procuram com o objetivo de corromper a
doutrina que recebemos do Senhor. Não trate bem uma serpente. Ela te
matará na primeira oportunidade.
Deduzimos que a "senhora eleita" era uma viúva. Seria mais um motivo
para que ela ficasse atenta em relação àqueles que desejassem entrar em
sua casa. Muitos exploradores, disfarçados de mensageiros de Deus,
"devoravam as casas das viúvas" (Mt.23.14; II Tm.3.6).
PALAVRAS EM DESTAQUE
Verdade – II João 1,2,3,4.
Mandamento – II João 4,5,6.
Amor – II João 3,6 Ensino (doutrina) – II João 9,10.
Permanecer – II João 2,9. Anticristo – II João 7.