Rute
(Rt)
Escritor: Desconhecido
Lugar da Escrita: Israel
Escrita Completada: Século X a.C
Tempo Abrangido: 11 anos do domínio dos juízes
Tema: Amor que redime
Em emocionante cena, o livro de Rute desabrocha-se na bela história de
amor entre Boaz e Rute. Mas, não é mero idílio de amor. A intenção não é
proporcionar diversão. O livro acentua o propósito de Deus de produzir o
herdeiro do Reino e exalta a Sua benevolência. (Rute 1:8; 2:20; 3:10) A
grande qualidade do amor de Deus se manifesta em escolher ele uma
moabita, ex-adoradora do deus pagão Quemós, que se convertera à religião
verdadeira, para se tornar uma antepassada de Jesus Cristo. Rute é uma
das quatro mulheres mencionadas por nome na genealogia de Jesus que
começa com Abraão. (Mat. 1:3, 5, 16) Rute, assim como Ester, é uma das
duas mulheres cujos nomes são dados a livros da Bíblia.
“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam . . .” Com estas
palavras iniciais, o livro de Rute começa a sua comovente história.
Estas palavras indicam também que esse livro foi escrito mais tarde, no
tempo dos reis de Israel. Entretanto, os eventos relatados no livro
abrangem um período de cerca de 11 anos no tempo dos juízes. Embora o
nome do escritor não seja declarado, é bem provável que tenha sido
Samuel, que também parece ter escrito Juízes, e que era a destacada
pessoa fiel no início do período dos reis. Samuel, bem familiarizado com
a promessa de Deus, a respeito de um “leão” da tribo de Judá, e que
havia sido usado por Deus para ungir a Davi, que era dessa tribo, para
ser rei em Israel, estaria profundamente interessado em fazer um
registro da genealogia até Davi. Gên. 49:9, 10; 1Sam.16:1, 13; Rute 1:1;
2:4;4:13, 18-22.
A autoridade canônica de Rute nunca foi contestada. Deu-se confirmação
suficiente dela quando Deus inspirou que se alistasse Rute na genealogia
de Jesus, em Mateus 1:5. O livro de Rute foi sempre reconhecido pelos
judeus como parte do cânon hebraico. Não é de surpreender, pois, que
foram encontrados fragmentos do livro entre outros livros canônicos nos
Rolos do Mar Morto, descobertos a partir de 1947. Além disso, Rute
harmoniza-se plenamente com os propósitos de Deus, referentes ao Reino,
e com os requisitos da Lei de Moisés. Embora fosse proibido aos
israelitas o casamento com cananeus e moabitas idólatras, isto não se
aplicava aos estrangeiros que, como no caso de Rute, aceitassem a
adoração de Deus. No livro de Rute, a lei sobre resgatadores e casamento
com cunhado é observada em todos os seus pormenores. Deut. 7:1-4; 23:3,
4; 25:5-10.
CONTEÚDO DE RUTE
A decisão de Rute de ficar com Noemi (1:1-22). A história começa
durante uma época de fome em Israel. Elimeleque, um homem de Belém,
atravessa o Jordão em companhia de sua esposa, Noemi, e de seus dois
filhos, Malom e Quiliom, para passarem algum tempo na terra de Moabe.
Ali, os filhos se casam com mulheres moabitas, Orpa e Rute. Sobrevém
desgraça a essa família; primeiro morre o pai e depois morrem os dois
filhos. As três mulheres ficam viúvas e sem filhos, não havendo
descendente para Elimeleque. Noemi ouve que Deus voltou novamente a sua
atenção para Israel, dando pão a Seu povo, e decide retornar à sua terra
natal, Judá. As noras se põem a caminho com ela. Mas Noemi roga-lhes que
voltem a Moabe, pedindo a benevolência de Deus para prover marido a cada
uma dentre os homens do povo delas. Por fim, Orpa volta “ao seu povo e
aos seus deuses”, mas Rute, sincera e firme na sua conversão à adoração
de Deus, fica com Noemi. Ela expressa belamente a sua decisão nas
seguintes palavras: “Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que
pernoitares, pernoitarei eu. Teu povo será o meu povo, e teu Deus, o meu
Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei enterrada. Assim
me faça Deus e assim lhe acrescente mais, se outra coisa senão a morte
fizer separação entre mim e ti.” (1:15-17) Entretanto, Noemi, viúva e
sem filhos, cujo nome significa “Minha Agradabilidade”, sugere que a
chamem pelo nome de Mara, que significa “Amarga”.
Rute respiga no campo de Boaz (2:1-23). Ao chegar a Belém, Noemi
permite que Rute vá respigar durante a colheita da cevada. Boaz, o dono
do campo, um judeu de idade madura e parente próximo de Elimeleque,
sogro de Rute, nota-a. Embora a lei de Deus lhe conceda o direito de
respigar, Rute demonstra sua humildade, pedindo permissão para trabalhar
no campo. (Lev. 19:9, 10) Concede-se-lhe prontamente a permissão, e Boaz
lhe diz que respigue somente em seu campo com suas moças. Conta-lhe que
ouviu sobre sua conduta leal para com Noemi e a encoraja com as
palavras: “Deus recompense teu modo de agir e haja para ti um salário
perfeito da parte de Deus, o Deus de Israel, debaixo de cujas asas
vieste refugiar-te.” (Rute 2:12) Naquela noitinha, Rute partilha
generosamente com Noemi os frutos de seu trabalho, e explica que o êxito
dela em respigar foi graças à boa vontade de Boaz. Noemi vê nisso a mão
de Deus, dizendo: “Bendito seja ele por Deus que não abandonou a sua
benevolência para com os vivos e os mortos. . . . O homem é aparentado
conosco. Ele é um dos nossos resgatadores.” (2:20) Com efeito, Boaz é
parente chegado que tem legalmente o direito de suscitar descendência
para Noemi em nome do falecido Elimeleque. Rute continua a respigar nos
campos de Boaz até o fim da colheita da cevada e do trigo.
Boaz, como resgatador, casa-se com Rute (3:14:22). Noemi, tendo
passado a idade de dar à luz filhos, instrui Rute para se casar em lugar
dela, segundo a lei do levirato. Numa época tão importante como a da
colheita, era costume o proprietário do campo supervisionar pessoalmente
a joeira dos cereais, que se fazia à noitinha, a fim de aproveitar a
brisa que soprava depois de um dia quente. Boaz estaria dormindo no chão
da eira, e é ali que Rute o encontra. Ela se aproxima dele quietamente,
descobre-lhe os pés e se deita. Ao despertar ele no meio da noite, ela
se identifica e, de acordo com o costume seguido pelas mulheres quando
reivindicavam o direito do casamento segundo a lei do levirato, pede que
ele estenda sobre ela a aba de sua veste. Boaz declara: “Que Deus te
abençoe, minha filha”, e elogia-a por não se ter interessado em jovens,
por paixão ou por cobiça. Longe de ser alguém que faria proposta de
relação impura, Rute ganha para si a reputação de ser “mulher de bem”.
(3:10, 11) Todavia, conforme ele então lhe diz, há outro resgatador que
é parente mais próximo que ele; consultará a este pela manhã. Rute
continua deitada aos pés dele até de manhã cedo. Daí, ele lhe dá de
presente cereais e ela volta para Noemi, que ansiosamente pergunta sobre
o resultado.
Boaz vai de manhã cedo até o portão da cidade à procura do resgatador.
Levando consigo dez dos homens mais idosos da cidade quais testemunhas,
dá primeiro a este parente mais próximo a oportunidade de resgatar tudo
o que pertencera a Elimeleque. Fará ele isso? A sua resposta imediata é
sim, ao lhe parecer que pode aumentar a sua riqueza. Mas, quando fica
sabendo do requisito de casamento com Rute, segundo a lei do levirato,
teme pela sua própria herança, e apresenta legalmente a sua recusa,
tirando a sua sandália. O nome dele não é mencionado no relato da
Bíblia, recebendo apenas menção desonrosa como “Fulano”. Diante das
mesmas testemunhas, Boaz resgata Rute como sua esposa. Faz ele isso por
algum motivo egoísta? Não, mas “para que o nome do morto não seja
decepado”. (4:1,10) Todos ali presentes invocam a bênção de Deus sobre
esta terna provisão, e essa bênção revela ser deveras maravilhosa! Rute
dá à luz um filho a Boaz que já era de idade avançada, e Noemi se torna
a ama da criança. Diz-se que “à Noemi nasceu um filho”, e é chamado de
Obede. 4:17.
Os versículos finais do livro de Rute dão a genealogia desde Peres,
através de Boaz, até Davi. Certos críticos argumentam que nem todas as
gerações estão alistadas, visto que o espaço de tempo é muito grande
para tão poucas pessoas. É isso verdade? Ou foi cada um abençoado com
muita longevidade, e com um filho em idade avançada? A última conclusão
parece ser a certa, o que sublinha que a produção da prometida Semente
depende da providência de Deus e de sua benignidade, não do poder
natural do homem. Em outras ocasiões, Deus exerceu seu poder de modo
similar, como no caso do nascimento de Isaque, de Samuel e de João, o
Batizador. Gên. 21:1-5; 1Sam.1:1-20; Luc.1:5-24, 57-66.
POR QUE É PROVEITOSO PARA NÓS:
Esta narrativa encantadora é certamente proveitosa, visto que ajuda a
edificar forte fé nos que amam a justiça. Todos os personagens
principais neste emocionante drama demonstraram ter notável fé em Deus,
e ‘receberam testemunho por intermédio de sua fé’. (Heb.11:39)
Tornaram-se bons exemplos para nós hoje. Noemi teve profunda confiança
na benevolência de Deus. (Rute 1:8; 2:20) Rute deixou de livre vontade a
sua terra natal para praticar a adoração de Deus; provou ser leal e
submissa, bem como trabalhadora disposta. Foi o profundo apreço pela lei
de Deus, por parte de Boaz, e sua aquiescência humilde em fazer a
vontade de Deus, bem como seu amor pela fiel Noemi e pela laboriosa
Rute, que o conduziram a cumprir o seu privilégio do casamento por meio
de resgate.
A provisão de casamento, feita por Deus, neste caso um casamento por
meio de resgate, foi usada em honra dele. Deus foi o Arranjador do
casamento de Boaz com Rute, e o abençoou segundo a sua benevolência; ele
o usou como meio de preservar ininterrupta a linhagem real de Judá,
conduzindo a Davi e finalmente ao Davi Maior, Jesus Cristo. O cuidado
vigilante de Deus na produção do Herdeiro do Reino, segundo a sua
provisão legal, deve fortalecer a nossa certeza e fazer com que
aguardemos com confiança o cumprimento de todas as promessas do Reino.
Isto nos deve estimular a trabalhar diligentemente na colheita atual,
certos de uma recompensa perfeita da parte de Deus, o Deus do Israel
espiritual, debaixo de cujas ‘asas viemos refugiar-nos’ e cujos
propósitos concernentes ao Reino estão progredindo tão gloriosamente em
direção ao seu pleno cumprimento. (2:12) O livro de Rute é mais um
elemento essencial da narrativa que conduz a tal Reino!